sexta-feira, 26 de abril de 2013

Dissidente volta a cartaz no GamboaNova, Vila Velha e Casa Preta.




GamboaNova, Vila Velha e Casa Preta.
“Dissidente”, da Cia. Teatro da Casa, volta a cartaz em três espaços diferentes nos meses de maio e junho.

O espetáculo Dissidente estreou ano passado. Teve seis indicações ao Prêmio Braskem de Teatro e levou duas premiações: a de "Melhor Diretor" para Gordo Neto e a de "Melhor Atriz" para Vivianne Laert. Embalado pela boa aceitação, a peça faz uma temporada em maio e junho em três espaços: o Teatro GamboaNova, o Vila Velha e a Casa Preta - onde o espetáculo foi concebido. Nos teatros GamboaNova e Vila Velha, a oportunidade é de receber um público maior, já que na Casa Preta a platéia não passa de 25 pessoas. 

Sobre a peça
“Dissident,  il va sans dire”, traduzido “Dissidente” pela professora doutora Catarina Sant’Ana, com direção de Gordo Neto, leva à cena, pela primeira vez juntos, a atriz veterana Vivianne Laert e o jovem ator Tato Sanches - que são mãe e filho, tais quais os personagens Helena e Felipe, da peça.
Felipe, um jovem de 17 anos, mora com sua mãe Helena e parece não estar muito motivado a encontrar trabalho.  Já Helena, separada do marido - um ex-socialista que conheceu durante a luta política - trabalha numa empresa fazendo estatísticas de mercado. A falta de interesse do filho pelo trabalho, pela vida “normal”, suas relações de amizade com um grupo de jovens suspeitos e sua visível degradação física apontam para um fim inevitável: a separação de mãe e filho por causa do seu envolvimento com drogas e crimes.
Em Dissidente, "os diálogos sem pontuação, salvo os sinais de interrogação, a ausência de rubricas evidentes, as falas desencontradas ou sem respostas, a mistura súbita de referentes e de tonalidades emocionais as mais diversas no interior de uma mesma fala de personagem, um laconismo geral denso de informação e de suspenses, os quais, por sua vez, não se desfazem, nem nos pressionam tampouco, mas literalmente esfumam-se no ar, para ressurgir bem mais adiante, discretamente, perdidos no meio a outros dados; tudo isso liberado em “doze pedaços” [...], não cenas, mas pedaços de real, sem nenhuma apresentação, nem mesmo pelos próprios personagens. É como se invadíssemos a vida de dois seres reunidos em momentos diversos e esparsos, e fôssemos obrigados a adivinhar do que se tratam no momento, a criar nós mesmos os elos, a costurar, enfim, os pedaços." [1]
O texto de “Dissidente” encanta pela sua comovente história e pela sua forma dramatúrgica rebuscada e poética, traço do autor, colocando na voz dos dois personagens frases tão bem construídas, escritas com um preciosismo ímpar, capazes de revelar, em situações aparentemente simples e cotidianas, a relação profunda entre mãe e filho. Da mesma forma vai, além disso, para, com a mesma aparente simplicidade, sobrepor histórias umas às outras, retomar assuntos que pareciam estar esquecidos, num imbricamento dramatúrgico que só um autor de sua estatura pode proporcionar.  Sem rubricas e sem pontuação, o texto de Vinaver é um exercício de criação tão difícil quanto prazeroso, pois se deixa revelar justamente na cena, na fala que parece desconexa se apenas lida, mas que ganha sentido, intensidade, beleza e clareza próprias da interlocução cotidiana entre dois humanos que vivem juntos.

Sobre o autor
"Escrevendo a contracorrente, antecipando-se a tendências, [...] não reconhecendo seu processo de criação em nenhum movimento contemporâneo – como brechtismo, teatro do quotidiano, o teatro documento, o teatro histórico, ou o texto como material-de-cena, etc. – Michel Vinaver (1927-) soube construir uma obra teatral"[2] que faz dele um expoente no teatro contemporâneo.
"Roland Barthes preconizara a importância de Vinaver para o teatro contemporâneo, desde que leu os manuscritos da primeira peça do autor.[...}  Bernard Dort, igualmente, concordava que Vinaver poderia dar conta da vida quotidiana, fora de ideologias." [3]
"Foi assim que, mesmo tratando em seus textos, entre outras coisas, das guerras da Coréia, da Argélia, da Indochina, da tomada do poder por De Gaulle [...], da absorção das pequenas empresas nacionais por multinacionais [...], das competições vorazes no mundo do trabalho e do desemprego [...}, de faits divers como a queda de um avião nos Andes que acaba em canibalismo ou o de uma mulher que mata seu amante [...] e até de acontecimentos na ordem do dia, como 11 de Setembro, Vinaver consegue uma escrita poética calcada num inteligente processo de composição que reelabora o real pela linguagem ou “à flor da linguagem” (“au ras du langage”, termo seu)."[4]


A banalidade do quotidiano nunca cessou de me interessar.
A matéria da vida diária em seu estado o mais indiferenciado,
o mais confuso, o mais indistinto, o mais neutro.
Partir do zero” – Vinaver, Ecrits sur le Théâtre, p.307.

Sobre a Cia. Teatro da Casa
A atriz Vivianne Laert e os atores Tato Sanches e Rui Manthur (assistente de direção de Dissidente), provocados pelo diretor Gordo Neto, criaram durante o processo de montagem de Dissidente, a Cia. Teatro da Casa . É uma companhia de atores, portanto, focada justamente no trabalho do ator, na interpretação.  À exceção de Tato Sanches, jovem ator que teve em Dissidente seu primeiro trabalho profissional, Manthur, Vivianne Laert e Gordo Neto são velhos conhecidos, desde os anos 90. Dividiram o palco, atuando, os três ou ao menos dois deles, em espetáculos como Barba Azul Um tal de Dom Quixote,  Sonho de uma Noite de Verão, O Despertar da Primavera e Material Fatzer.
O nome da Cia, "da Casa", veio tanto por conta desta proximidade entre eles - para além de Tato Sanches ser filho de Vivianne - como também pelo local que abrigou este projeto, a sede do grupo parceiro, o Vilavox, que fica na Casa Preta Espaço de Cultura. É todo mundo "de Casa", é todo mundo "da Casa".
Dissidente, que foi concebido e apresentado numa pequena sala deste sobrado, a Casa Preta, no Dois de Julho, agora parte para o desafio de ser apresentada em teatros, o GamboaNova e o Vila Velha, além da própria Casa Preta - sua casa.

Ficha Técnica
Texto
Michel Vinaver
Tradução
Catarina Sant´Anna
Direção
Gordo Neto
Assistente
Rui Manthur
Elenco
Vivianne Laert
Tato Sanches                         
Música
Ricardo Caian
Coreografia
Lauana Vilaronga
Cenário
Rodrigo Frota
Figurino
Luiz Santana
Produtor de Objetos
Dan Rodrigues
Iluminação
Fred Alvin
Assistente de Produção
Newton Olivieri
Espetáculo dedicado a
Daniel Farias
Produção
Cia. Teatro da Casa
Arraial Promoções
Realização
Cia. Teatro da Casa e Grupo Vilavox
Contatos
Gordo Neto - 8779 6093
Vivianne Laert - 8842 0592

Serviço
GamboaNova:
Dias 01,02 e 03/05 (qua, qui e sex), às 20h.
R$ 20,00(inteira)

Teatro Vila Velha
Dias 04, 05 (sab e dom, 20h), 09, 10,11 e 12 (qui a sab, 20h e dom, 19h)
R$ 15,00 (qui, promoção) e R$30,00 (sex a dom, inteira)

Casa Preta
De 24/05 a 16/06 (sex a dom, 20h)
R$ 30,00 (inteira)


Currículos

GORDO NETO
41 anos, transita desde 1990 por vários caminhos do fazer teatral: atua, dirige, escreve e produz alternadamente.  É integrante-fundador do grupo Vilavox  e  trabalhou durante dez anos no Teatro Vila Velha. Atuou em mais de vinte espetáculos e dirigiu outros sete.  Tem peças montadas e inéditas.  É sócio da produtora Arraial Promoções. Foi premiado (Prêmio Braskem de Teatro) como “Melhor Diretor” por “Dissidente”. 

VIVIANNE LAERT
Iniciou sua formação na Oficina Independente de Teatro (1985/1986), sob a orientação de Fernando Guerreiro. Participou do Projeto para Formação de Atores da Fundação Gregório de Mattos, orientação de Márcio Meirelles (1986/87). Fez o III Curso Livre de Teatro da UFBA, direção de Luiz Marfuz (1987/1988); a Oficina de Arte Performance, orientação Beto Martins, Roberto Cohen, Lali Krotosindki(1987); a Oficina de Interpretação para o ator, orientação Rubens Correa(1988); a Oficina de dramaturgia do ator, orientação Luis Otavio Burnier e Carlos Simione – LUME/SP (1988); “Theather fur Ausländer” (Teatro para estrangeiros) na Volkshochshule – Berlim/Alemanha (1990); o curso História da dança, orientação Maria da Glória Reis (1991); estudou teatro coreográfico com Carmen Paternostro (1992) realizando também cursos de canto com Graça Reis e Neto Costa e perna-de-pau com Gordo Neto (1998).
Participou de diversas montagens : A Formiguinha Fofoqueira direção Zezão Pereira (1983), Os Físicos direção de Nilson Mendes (1984), Nadsat de Fernando Guerreiro (1985),  Gregório de Mattos de Guerras de Márcio Meirelles (1987), SIM – O Universo de Arrabal, direção Luiz Marfuz e Morangos Mofados de Fernando Guerreiro e Paulo Atto (1988), O Beijo no Asfalto de Fernando Guerreiro (1992), Merlin ou a Terra Deserta de Carmen Paternostro (1993/1994), Barba Azul e Um Tal de Dom Quixote de Márcio Meirelles (1997/1998), Bodas de Sangue de Nelson Vilaronga (1999), Pé de Guerra de Márcio Meirelles (1999/2000), As Virgens Noivas da Violência de Andrea Elia (2001) , os espetáculos infantis H²O – Uma Fórmula de Amor, direção de Zeca Abreu e  A Princesa e o Unicórnio, direção George  Mascarenhas  (2003), As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, direção Elisa Mendes (2003/2004), Auto-Retrato aos 40, direção Marcio Meireles (2 004), 1º de Abril, direção Gordo Neto (2004/2005). Participou, no ano de 2005, do Projeto “ 3 e Pronto” da Companhia Teatro dos Novos, com os seguintes espetáculos: Cartas Abertas, direção Marcio Meireles; Diatribe de Amor contra um Homem Sentado (indicada melhor atriz coadjuvante – Prêmio Brasken de Teatro), direção Iara Colina; Momento Argentino, direção Gordo Neto e Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, direção Espírito Santo. Em 2007 participou do espetáculo A Geladeira, direção Thomas Quilladert; Álbum de Família, direção Paulo Henrique Alcântara (2008/2009). Em 2010 esteve em temporada com o espetáculo Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas de 12/03 a 12/09/10 no Teatro Jorge Amado. Atualmente está em cartaz com o espetáculo infantil H²O – Uma Fórmula de Amor também no Teatro Jorge Amado.
Foi premiada (Premio Braskem de Teatro) como “Melhor Atriz” por “Dissidente”.
Em televisão, participou do Programa Especial de lançamento da TV EDUCATIVA/BA, ´´AMADO JORGE´´, sob a direção de Álvaro  Guimarães, tendo interpretado a personagem Lívia, de Mar Morto (1985). Participou também da minissérie  “O PAGADOR DE PROMESSA``, na TV GLOBO (1986),  direção de Tisuka Yamazaki.
VITOR SANCHES
Iniciou sua formação no TODO MUNDO FAZ TEATRO - Juvenil em 2006. No primeiro semestre/2007 fez o curso básico e a partir agosto/2007 até a presente data faz o curso avançado, todos com direção de Filinto Coelho e Renan Ribeiro.
Participou das seguintes montagens: 
O céu do Brasil (2006); As mil e uma noites (2006); O mambembe (2007); Entre o céu e a terra (2007); Decamerão (2008); Pra que serve o amor? (2008); Sangue de mentiras (2009); Hair (2009); Os reis do Brasil (2010); O grande escândalo do proibido (2010); Bonequinha de lixo (2011).

RICARDO CAIAN
Em 2007 e 2008 participou como guitarrista da peça "Primeiro de Abril" do grupo Vilavox do teatro Vila Velha, executando a sonoplastia e trilha da mesma sob a direção de Jarbas Bittencourt. Em 2008 escreveu uma trilha para a leitura do texto "Dissidentes" de Michel Vinaver, que ocorreu no Vila Velha sob a direção de Gordo Neto e atuação de Viviane Laerte e Daniel Farias.  Em 2009 participou como baixista de duas temporadas da peça "Imagina Só", do grupo Novos Novos do teatro Vila Velha, executando a trilha da mesma sob a direção de Ray Gouveia. Entre novembro de 2009 e janeiro de 2010 participou da gravação do disco "Arraial - Alvoradas e outras canções" como instrumentista e arranjador junto à Jarbas Bittencourt, produtor e diretor musical do disco. Em 2009 ficou entre os 50 finalistas do festival de música da Educadora com uma composição sua chamada "Até Cuba", que tocou diariamente por duas semanas na própria rádio. En tre os anos de 2009 e 2010 foi professor em uma escola de música no Rio Vermelho dirigida por Maria Angélica Vilas Boas. Desde janeiro de 2007 trabalha como monitor e programador em períodos de férias no Acampamento Arraial Uniser, onde realiza diversas atividades recreativas com crianças, incluindo oficinas de músicas. Entre os anos de 2010 e 2011 trabalhou no projeto “Consultório de Rua” do CETAD-UFBA, onde atuava como redutor de danos realizando atividades musicais com jovens usuários de drogas em situação de rua. Em 2009 acompanhou como guitarrista a cantora Nabiyah Bashir numa temporada de shows no Teatro Sesi Rio Vermelho e em 2010 no Pelourinho. Em 2009 também fez uma temporada de quatro meses com seu grupo de música instrumental "Quarteto Vida Dura" no Espaço Cultural Casa da Mãe (Rio Vermelho). Entre novembro de 2010 e julho de 2011 fez parte da banda Rio Vermelho como guitarrista, realizando diversos shows na cidade de Salvador, incluindo o carnava l, onde fez dois dias em trio elétrico no circuito Barra-Ondina. No mesmo carnaval de 2011 foi guitarrista da banda de Eliana que tocou no bloco infantil, Happy. Criou e é vocalista e produtor da banda Ricardo Caian e os Beduínos Gigantes.


[1] Trecho da crítica de Catarina Sant'Anna, em "Vinaver à flor da linguagem, entre heranças vanguardistas e brechtianas", em Michel Vinaver, Dissidente. O Programa de televisão. Tradução, estudos e notas de Catarina Sant'Anna. São Paulo, EDUSP, 2007, p. 11-18.
[2] Ídem
[3] Ídem
[4] Ídem

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Prêmio Braskem de Teatro

O SEGREDO DA ARCA DE TRANCOSO RECEBE PRÊMIO DE MELHOR ESPETÁCULO INFANTIL 

 

Abaixo, a lista completa (indicados e contemplados, sendo os contemplados em negrito) e as falas de Gordo Neto em nome dos grupos Vilavox e Cia. Teatro da Casa. 

ESPETÁCULO ADULTO
Amor Barato
Dissidente
Entre NósO Olho de Deus: O Avesso dos Retalhos

ESPETÁCULO INFANTOJUVENILMeia Dúzia de Pepinos
O Segredo da Arca de TrancosoPaparutas

DIREÇÃOCláudio Machado (O Segredo da Arca de Trancoso)
Gordo Neto (Dissidente)Thiago Romero (Breve Outono Inverno)

ATORCláudio Machado (O Segredo da Arca de Trancoso)
Daniel Moreno (Ovo e Vice e Versa)
Igor Epifânio (Entre Nós)Lúcio Tranchesi (Salmo 91)
Urias Lima (Amor Barato)

ATRIZAndréa Elia (O Sumiço da Santa)
Denise Correia (O Sumiço da Santa)
Lia Lordello (Tome Isto ao Coração)
Neyde Moura (O Olho de Deus: O Avesso dos Retalhos)
Viviane Laerte (Dissidente)
TEXTOEntre Nós (João Sanches)Meia Dúzia de Pepinos (Jones Motta)
O Olho de Deus: O Avesso dos Retalhos (Sônia Robatto)
Olorum (Gildon Oliveira)
O Sumiço da Santa (Claudio Simões)

REVELAÇÃOBruna Scavuzzi (atuação em SMS: A Saga da Memória Soteropolitana)
George Vladimir (direção de Mar Morto)Laís Machado (atuação em O Sumiço da Santa)
Tato Sanches (atuação em Dissidente)

CATEGORIA ESPECIALJarbas Bittencourt e Ronei Jorge (trilha sonora de Amor Barato)
Márcio Meirelles (cenografia de Drácula)
Ricardo Caian (trilha sonora de Dissidente)
Rino Carvalho (figurino de Amor Barato)Rodrigo Frota (cenografia de Dissidente)




Fala no Prêmio Braskem de Teatro, no caso da premiação de “Melhor Diretor” por “Dissidente”, da Cia. Teatro da Casa.

Obrigado à Braskem e aos colegas da comissão por esta premiação. Entendo esta e qualquer outra premiação como um reconhecimento, sim, mas desde já chamo a atenção que quaisquer escolhas que procurem definir "o melhor", sobretudo em se tratando de arte, é movido também pelo gosto pessoal, pelas circunstancias e vivência daqueles que fazem estas escolhas. Neste caso, em especial - nesta premiação de melhor diretor, preciso mesmo fazer uma ressalva. Não por que imagine que os meus colegas da comissão, gente com certeza gabaritada para este papel, tenha se equivocado. Volto a agradecê-los pela escolha, certo de que, sob seus olhares, Dissidente teve a direção mais acertada em 2012. Mas como estive ano passado envolvido muito profundamente com dois espetáculos, O Segredo da Arca de Trancoso e Dissidente, e pude acompanhar, de dentro, a criação de ambos, devo dizer que, da minha perspectiva, o  melhor diretor em 2012 foi Claudio Machado, de O Segredo da Arca de Trancoso. (Eu não vou chamá-lo a subir, mesmo porque ele já está aqui em cima, trabalhando). Mas este troféu vai ficar na Casa Preta e é nosso, assim como é também de todos nós, da Cia Teatro da Casa e do Vilavox. E não deixa de ser, ainda, uma conquista de todos aqueles que fazem Teatro de Grupo, esta forma de luta do teatro, pelo qual venho, ao longo de anos, me dedicando.

Compartilho ainda com minha equipe: Vivianne Laert, Tato Sanches, Rui Manthur, Ricardo Caian, Luiz Santana, Rodrigo Frota, Dan Rodrigues e Lauana Vilaronga, além de Catarina Santana, que traduziu e me apresentou "Dissidente" - este belíssimo texto de Michel Vinaver.

Agradeço ao nosso único apoiador, o Gelo Garcia, e aos nossos patrocinadores:  MasterCard e Visa, no caso, o meu cartão MasterCard e o cartão Visa de Vica...

Por fim, com esta premiação, mais do que nunca, reafirmo para mim mesmo, almejando eco, a ideia de que com dinheiro ou sem dinheiro, com edital ou sem edital, indicado ou não, com ou sem o apoio da imprensa local; na rua, no palco, numa casa antiga, no TCA, no centro ou na periferia, é preciso fazer teatro: seu teatro, não o teatro do outro, o teatro que dizem ser melhor, que dizem ser "o teatro baiano"! O nosso teatro é heterogêneo, tão variado quanto nossa gente.  Então, sejamos um pouco mais generosos, sim, sejamos mais generosos...



Fala no Prêmio Braskem de Teatro, no caso da premiação de “Melhor Espetáculo” por “O Segredo da Arca de Trancoso”, do Vilavox, ou por “Dissidente”,  da Cia. Teatro da Casa.

Boa Noite, vou falar em nome do Vilavox
OU
Boa Noite, vou falar em nome da Cia. Teatro da Casa

Aos colegas, a cada um vocês, aos que nem conheço, aos que me ensinaram, aos que estão chegando, aos de grupo, da rua, da caixa, da escola, do vila (teatro que me criou, que me deu régua e compasso) - da Sitorne, das oficinas, dos bairros, do centro... a vocês eu gostaria mesmo de dizer, parafraseando Filinto Coelho: todo mundo faz teatro!
Enquanto insistirmos em pensar que o teatro que fazemos é melhor porque é mais bem acabado, mais politizado, mais engraçado, mais engajado, mais isso ou mais aquilo, a gente não vai extrapolar as barreiras do nosso próprio fazer teatral, soteropolitano.  Digo soteropolitano, porque aqui, nesta sala do maior teatro do Bahia, é do teatro de Salvador que estamos falando, e olhe lá, do teatro feito entre a Pituba e o Pelô, talvez. Precisamos compreender que só temos a ganhar se nosso teatro for diverso! 

Esta peça, Dissidente, pela qual recebemos agora este prêmio, foi montada numa sala de uma casa antiga, aqui no centro, pra apenas 20 pessoas.
OU
Esta peça, “O Segredo da Arca de Trancoso”, pela qual recebemos este prêmio agora, foi montada nas ruas e num terreno baldio no Dois de Julho.

E isto, me parece, é tão teatro quanto a montagem oficial do TCA núcleo, é tão teatro quanto o teatro feito pelos “grandes diretores baianos", é tão teatro quanto o teatro que foi feito na tão aclamada década de 90, à qual teimamos em nos referir com um saudosismo tão inapropriado quanto maléfico.  Tenho saudade é do futuro. Daquele, que a gente ainda não construiu.

À imprensa, um apelo: olhem o teatro com mais carinho. Sei que aqui estão alguns jornalistas ligados à cultura, talvez algum editor. Sei que este apelo pode ser em vão, pois muitas vezes, mesmo com a boa vontade dos poucos que ainda escrevem sobre teatro, os anúncios de prédios vendendo outros sonhos ou o “fogo amigo” das outras linguagens, sobretudo da música com seu poder de reunir multidões, o imperialismo sudestino da TV Globo ou dos que dela vêm, ocupam os já escassos espaços. Mas ainda assim, fica este apelo...

Aos gestores peço que abram os olhos: os grupos de teatro em cidades como São Paulo ou Belo Horizonte são os propulsores do que há de mais inovador no teatro brasileiro. E os são porque em ambas há apoio e fomento ao teatro de grupo. Estamos perdendo, aqui, uma oportunidade sem precedentes de fazer uma revolução estética do nosso teatro. Proporcionem aos grupos espaços onde possam trabalhar, criem mecanismos de apoio continuado – aliás, criem não, implementem, pois eles já existem. Não podemos perder este bonde, ele poderá passar.  Fernando, Nehle, colegas artistas que hoje se encontram à frente das Fundações Municipal e Estadual, posso dizer que grupos de teatro esperam de vocês não apenas a coerência com suas histórias como artistas, mas também a percepção, ao nosso ver muito clara, da força criativa que estes grupos têm. 
Pediria, por fim, para que a gente possa visualizar melhor; que os artistas ligados aos grupos, assim como os simpatizantes, os que acreditam nos grupos como uma importante força motriz para o nosso teatro, levantem-se, fiquem de pé e aplaudam a mais um Prêmio Braskem – prêmio este que é de todos os artistas e técnicos que fazem do nosso teatro um teatro vivo e transformador! Evoé!